A preocupação com a saúde e o belo existe desde os primórdios. É bem conhecida pelo homem, por meio de registros em papiros e escrituras antigas. Entretanto, uma busca mais específica, para não dizer mais requintada, tem sido assunto em consultórios médicos e rodas sociais, além de tema de congressos, fóruns científicos e muita pesquisa.
A curiosidade sobre o tema, vinda de instintos primitivos de sobrevivência e longevidade naturais do homem, tem tomado as mentes de pessoas intelectualizadas e interessadas em viver segundo suas maiores potencialidades físicas, mentais, sexuais e orgânicas. Nesse ínterim, alimentar-se de pão integral, leite desnatado, iogurte natural, fruta à vontade e pouca gordura tornou-se um comportamento questionável e pra alguns, até errado.
Já algumas pílulas, como as usadas para reduzir o colesterol, passaram a ser questionadas e condenadas por muitos. Pílulas anticoncepcionais, então, tornaram-se verdadeiros venenos para a esmagadora maioria da população feminina, que há anos faz uso contínuo, sem questionar, muitas vezes, por toda uma vida. O ovo deixou de ser vilão e assumiu a posição de terceiro alimento mais saudável e completo do mundo, ficando atrás, apenas, do leite materno e da quinoa real. E os conceitos de modulação hormonal(ou reposição de hormônios bioidênticos) passaram a fazer parte do diálogo de médicos mais antenados com pacientes ávidos pela tal “juventude com saúde”. As pessoas passaram a querer viver sem adoecer e a aumentar seu nível de energia.
Mas nem tudo são flores. De alguns anos para cá, alguns colegas médicos, quase todos jovens, vem levantando uma nova bandeira, lançando conceitos e rompendo paradigmas obsoletos nas áreas nutricional e hormonal. A medicina tradicional é chamada por eles de “medicina da doença” – por ocupar-se em encontrar um diagnóstico e depois tratar, ao invés de preocupar-se em promover saúde e prevenir doenças. Eles defendem que, em pleno século 21, ficarmos esperando as doenças aparecerem é um retrocesso e que podemos retardar seu aparecimento com hábitos saudáveis de vida e de alimentação. Críticas de colegas mais conservadores e entidades de classe não faltam, mas resultados fabulosos em seus pacientes, em termos de disposição, forma física e parâmetros biológicos nos exames sanguíneos são notórios e até impressionantes.
Mas e então? O que seria essa ciência, esse modo de entender a medicina e tratar as doenças, ou melhor, de preveni-las? Tentarei desmistificar conceitos e colocar aqui o que já é provado cientificamente e inquestionável nos dias de hoje.
O nome “Medicia Anti-Aging” foi criado por americanos na década de 90 com indubitáveis interesses comerciais. Mesmo porque não existe uma forma de estacionar o envelhecimento. O nome foi mais tarde traduzido para o português de forma pejorativa como “Medicina Anti-Envelhecimento”. Digo isso porque mais que evitar simplesmente o envelhecimento, ela trata da prevenção de doença. Ou seja, o “envelhecer” aqui, não é ficar com a aparência enrugada e desvitalizada. Mais do que isto, é ter um corpo “saudável”, um metabolismo ótimo e níveis hormonais mais altos, semelhantes aos encontrados normalmente, em pessoas mais jovens. Seu lema é equilíbrio entre hormônios e nutrientes (vitaminais e minerais) e a promoção da saúde. A mudança física, o desenvolvimento de uma musculatura mais forte, a substituição na composição corporal de “massa gorda” para “massa magra”, e a aparência mais jovem são apenas uma consequências dessa “saúde” adquirida. Além do viço da pele, a libido, a energia e a velocidade de raciocínio que aumentam invariavelmente.
Podemos dizer, sem medo de errar, que essa “medicina” não tem ainda um nome que traduza toda a sua abrangência, mas poderíamos chamá-la de “Medicina Preventiva Integrativa” – umamedicina que vê o paciente de uma forma holística.
A ação e o papel da indústria farmacêutica, e a questão das patentes, bem como sua relação com os médicos são outra questão criticada pelos adeptos da medicina preventiva integrativa. Quando falamos em vitaminas, minerais, antioxidantes, suplementos e hormônios bioidênticos, tais substâncias não possuem patentes, são isomoleculares (bioquimicamente iguais aos produzidos pelo organismo) e já existem no próprio corpo humano e na natureza. Eles afirmam que a “indústria” investe em estudos que buscam modificar quimicamente tais substâncias que poderiam ser manipuladas ou comercializadas a um custo baixo, no intuito de patenteá-las e faturar milhões como sendo o único medicamento para determinado fim. Entretanto, a “indústria” se baseia em estudos cujas evidências científicas são questionáveis e cujos resultados muitas vezes são camuflados por vieses metodológicos. Muitos desses medicamentos “descobertos” e “vendidos” aos médicos são de uso crônico, ou seja, o paciente deve usá-lo por toda a vida. O curioso é que estudos mais sérios, conduzidos por entidades científicas e médicas isentas de interesses de mercado, não mentem: muitos deles comprovam que após anos usando os medicamentos descobertos e vendidos como a cura ou o controle de determinada doença, a população estudada está mais doente e morrendo mais a cada ano pelos mesmos problemas.
Em suma, é dessa forma que mais drogas são acrescentadas a cada dia aos hábitos de milhares de pessoas que gastam seu dinheiro em remédios que acreditam serem benefícios para sua doença quando na verdade, o que esta ocorrendo é a perpetuação do problema e a geração de danos a outros mecanismos e sistemas orgânicos, gerando mais doenças, mais gastos, mais óbitos e mais enriquecimento por parte dos laboratórios. Paralelo a isto assistimos inertes à perpetuação da “medicia curativa” e de todo um sistema de crenças, relações e conceitos que na verdade estão colocando em risco a saúde da população.
Outra questão que contribui é a desinformação por parte da população, que culturalmente, ainda acredita na medicina curativa. E essa crença é alimentada pelos próprios médicos. Afinal, qual alternativa existe para a população comum além de acreditar em seu médico?
Juntamente a toda essa problemática, e talvez ainda mais grave que ela, é a questão da indústria alimentícia. Desde 2008 o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos o mundo. Nosso solo é contaminado por agrotóxicos em altíssimas quantidades, nossos peixes são contaminados por metais pesados, o frango e a carne vermelha que ingerimos cotem altas doses de antibióticos e hormônios usados nos criadouros. O leite de vaca comercializado no Brasil é diluído com produtos químicos, conservantes, resíduos de antibióticos e hormônios também usados nas vacas. Além disso, nas prateleiras dos supermercados, os rótulos contem nomes que remetem a uma falsa idéia de saúde, como Light, glúten free, lowcarb, “não contem gordura trans”, quando na verdade o produto é rico em xarope de milho, frutose, açúcar, sal, aspartame e outros tantos aditivos químicos que aumentam o paladar, favorecem o sabor, deixam o alimento crocante, mas são verdadeiros venenos para nosso organismo.
Como o leitor por perceber, esse artigo trata de questões extremamente complexas e muito polêmicas, mas que devem ser levantadas e trazidas ao público para que as pessoas possam saber da existência de todas as questões ligadas atualmente à prática médica. Colegas médicos, adequadamente formados e capacitados para uma abordagem mais isenta e mais saudável na condução de seus pacientes já existem no mundo todo, no Brasil e em Belo Horizonte. Alimentação saudável, bem como suplementos e vitaminas cuja reposição adequada promovem saúde são facilmente compradas aqui, com exceção de algumas. E as mudanças nos hábitos alimentares são urgentes, e mais fáceis hoje, uma vez que já dispomos de lojas e departamentos voltados a esse tipo de produtos nos supermercados.
Vou finalizar com palavras do doutor e professor Lair Ribeiro, cardiologista e nutrólogo, defensor da medicina preventiva no Brasil, já há alguns anos. “De que adianta ter uma rica conta bancária se sua saúde é pobre?”. E ainda acrescenta: “Um dos grandes segredos da vida é morrer jovem, o mais tarde possível”.