Cirurgia Reparadora – Dra. Patrícia Leite – Cirurgia Plástica e Estética

A cirurgia plástica reparadora é uma vertente da cirurgia plástica, que tem como objetivo corrigir defeitos físicos e lesões deformantes. Tais defeitos podem ser de nascença ou adquiridos, que desfiguram o portador, de tal forma que chamam a atenção de todos. Podem ser também, defeitos que, sem chamarem a atenção, enfeiam as pessoas. Ou defeitos que não chegam ao “feio”, mas que incomodam ao portador. Sua denominação, “reparadora”, “restauradora”, “reconstrutiva” ou “anaplástica”, refere-se ao reparo de tecidos, à reposição de membros, estruturas ou partes perdidas e à restauração de alterações anatomofuncionais, congênitas ou adquiridas. Este ramo da cirurgia plástica é considerado tão necessário quanto qualquer outra intervenção cirúrgica. Apesar de realizado desde os primórdios, só se desenvolveu realmente a partir da 1ª Guerra Mundial, quando os procedimentos reparadores tornaram-se necessidade imperiosa. Após a 2ª grande guerra a especialidade tomou maior impulso, com o início de pesquisas e o advento de retalhos musculares, microcirúrgicos e fasciocutaneos, que possibilitaram a cobertura das mais variadas formas de lesões.

“A CIRURGIA PLÁSTICA, que representa muito de arte, encontra sua grande limitação no pedículo vascular, o que coloca nossas aspirações bem aquém do escultor, do pintor e do poeta, que procuram a beleza como fonte de liberdade sem limites.” (Ivo Pitanguy)

Cirurgia de cabeça e pescoço
Trata da abordagem de tumores nessas regiões, que muitas vezes, envolve grandes mutilações extremamente traumáticas e deformantes em áreas nobres do ponto de vista funcional e estético. A reparação cirúrgica nessa região tem como objetivo, a ressecção de tumores muitas vezes grandes, ou que envolvem amplas margens cirúrgicas, e depois, a correção das deformidades originadas dessas ressecções e a recuperação anatômica, funcional e também estética. Para tanto, o cirurgião plástico lança mão de enxertos, retalhos locais, a distância e muitas vezes complexos retalhos microcirúrgicos. Tal correção, para ser eficiente, deve devolver ao paciente o funcionamento normal de suas nobres funções (tais com olfato, visão, audição, paladar) e aproximar o máximo possível de uma aparência mais próxima dos padrões estéticos, tornando-a menos estigmatizante, e possibilitando sua reintegração social.

Cirurgia crâniomaxilofacial

As malformações craniofaciais que desfiguram o crânio e a face de indivíduos levam a graves conseqüências no desenvolvimento, nas funções, no psiquismo e na sociabilidade dos mesmos. São resultantes de alterações dos genes ou de fatores exógenos, tais como algumas doenças, medicamentos, drogas, álcool, e outros, os quais se traduzem por alterações no período embriológicos. Tais defeitos podem ser genericamente agrupados em displasias craniofaciais, fissuras e craniossinostoses.

A cirurgia craniofacial é uma área desenvolvida para reposicionar e remodelar os ossos da face e crânio através de incisões dissimuladas. Deformidades severas do crânio e da face que no passado eram corrigidas com grande dificuldade ou até mesmo consideradas impossíveis de se corrigir são hoje melhor reconstruídas utilizando técnicas modernas. Tais técnicas se baseiam em amplo conhecimento científico, fruto de pesquisas realizadas em grandes centros do Brasil e do mundo. Essas deformidades geralmente resultam de defeitos congênitos embriológicos da face e crânio, que muitas vezes fazem parte de síndromes complexas, reconhecidas desde o período intra-uterino, ao nascimento ou nos primeiros meses de vida. O tratamento dessas malformações ósseas e faciais fazem parte do âmbito da cirurgia plástica reconstrutora e obedece a protocolos rígidos que determinam várias intervenções cirúrgicas em diferentes épocas da vida juntamente com o acompanhamento multidisciplinar do paciente. Cabe aqui, mencionar que a cirurgia fetal está surgindo como um promissor tratamento das lesões craniomaxilofaiciais, juntamente com a biologia molecular e a engenharia de tecidos.

Cirurgia de mão
A mão é um privilegiado órgão de execução e informação excepcionalmente versátil. Sua complicada estrutura anatômica lhe dá ao mesmo tempo estabilidade e mobilidade, permitindo-lhe realizar infinita variedade de movimentos, que variam desde os mais grosseiros, até os complexos e extremamente delicados. Além disso, é através da mão que o homem percebe o mundo, e tem sensações que possibilitam a ele desde o trabalho manual até as trocas afetivas. O amplo campo de atuação da cirurgia plástica também atua neste nobre órgão, incluindo o tratamento de lesões traumáticas agudas e a correção de deformidades congênitas ou adquiridas.

Microcirurgia
A microcirurgia é uma técnica que permite a sutura de vasos sanguíneos e nervos de um milímetro ou menos de diâmetro. É hoje indispensável para a cirurgia reconstrutora moderna. Através dela, tornou-se possível o reparo de amputações e de variadas lesões traumáticas, a sutura de nervos periféricos e o reimplante de partes de mãos e de membros traumaticamente amputados. Através desta técnica também é possível a transferência de retalhos cutâneos, musculares e ósseos na cobertura de regiões traumatizadas ou retiradas no tratamento do câncer. Devido à sua alta complexidade e à necessidade de treinamento especializado, tais cirurgias são realizadas em centros próprios de treinamento e ensino. Graças a evoluções técnicas da microcirurgia, reconstruções antes inimagináveis são hoje realizadas, possibilitando o aproveitamento de valiosos membros e funções do corpo humano. Muitos avanços estão esperados para o futuro nesta promissora área da cirurgia plástica, tais como as biopróteses, o uso do laser, o uso do acido desoxirribonucléico recombinante e a terapia gênica, na tentativa de limitar a trombose dos vasos. Os retalhos pré-fabricados também trazem com eles mais opções de reconstrução e serão no futuro, mais uma poderosa ferramenta da cirurgia plástica moderna.

Traumatismo facial
O trauma facial tem crescido, especialmente nas últimas quatro décadas, tendo estreita relação com o aumento de acidentes automobilísticos e a violência urbana. Com o advento de medidas rígidas no controle preventivo dos acidentes de trânsito em nosso país, o índice destes caiu 50% nos últimos 5 anos. Por outro lado, a freqüência do trauma proveniente da violência tem atingido cifras alarmantes. O conhecimento deste problema e a abordagem correta desses pacientes são de grande relevância para o médico que trabalha na sala de emergência e particularmente importantes para o cirurgião plástico, devido à sua alta incidência. Além disso, se as fraturas não forem devidamente reparadas, os pacientes podem evoluir com seqüelas estéticas e funcionais, com repercussões emocionais, sociais e econômicas. Os pacientes com trauma facial são geralmente politraumatizados e necessitam de um atendimento multidisciplinar eficiente. Por isso, o líder da equipe médica irá ditar as prioridades, a fim de manter as vias aéreas pérvias e o equilíbrio cardiocirculatório e respiratório. Depois de estabilizado, o paciente deve ser avaliado e conduzido pelas diversas especialidades relacionadas ao trauma, como a cirurgia plástica. O tratamento das fraturas faciais mudaram radicalmente nos últimos 10 anos, graças a utilização corriqueira da tomografia computadorizada com melhor eficiência no diagnóstico e do plano de tratamento. A aplicação de técnicas craniofaciais de abordagem aumentou a possibilidade de restauração funcional e estética, com a utilização de enxertos ósseos no tratamento primário, bem como o uso de fixação interna rígida, técnicas modernas e mais eficazes de tratamento.

Queimaduras
Queimadura é a lesão resultante da ação do calor direto ou indireto (radiante) sobre o corpo. Pode ser provocada por calor, eletricidade, frio e substâncias químicas. A gravidade e o prognóstico dependem da extensão da superfície queimada, da profundidade e da localização da lesão, do agente causal, da idade do paciente e da presença de doenças associadas. Trata-se, pois, de uma patologia muitas vezes grave, complexa, com grande abrangência clínica e cirúrgica. O tratamento agudo, que deve ser feito no momento do acidente, envolve a reposição de líquidos, os cuidados com a área queimada e o tratamento das repercussões clínicas. Estas podem ser bastante graves e muitas vezes fatais. É realizado em grandes centros sendo que os mais modernos já dispõem de bancos de pele. O suporte intensivo de vida e a engenharia de tecidos nos permitem hoje tratar adequadamente mesmo os casos mais graves, com grande superfície corporal queimada, e realizar precocemente a cobertura cutânea, otimizando a cicatrização e diminuindo as seqüelas cicatriciais. Após o tratamento agudo, o paciente queimado requer uma longa e onerosa abordagem multidisciplinar, onde o manejo da dor e o controle da cicatrização são os maiores desafios. As seqüelas cicatriciais, dependendo de sua localização e extensão podem ser mais ou menos incapacitantes ou deformantes. A cirurgia reconstrutora do paciente queimado constitui um dos maiores feitos da cirurgia plástica.

Anomalias congênitas da boca e do palato
As fissuras lábio palatais representam a anomalia congênita mais freqüente da face. São causadas pelo desenvolvimento anormal da face durante o período gestacional, podendo ser divididas basicamente em fissuras labiais, palatais ou labiopalatais. Estima-se que ocorra um caso novo a cada 700 nascidos vivos e um total de 6000 novos casos por ano no Brasil. Junto com o diagnóstico da deformidade surgem desafios no manejo não só das alterações anatômicas encontradas, mas também da relação médico-paciente-familiares. Nesta, a ansiedade e as dúvidas existentes devem ser sanadas de maneira límpida e objetiva, com a intenção de prevenir e amenizar alterações do crescimento facial, do desenvolvimento de funções cognitivas (fala) e propiciar a integração social destes pacientes. O tratamento multidisciplinar desta complexa deformidade é a melhor forma para uma reabilitação adequada. Vai do nascimento até o final da adolescência sendo realizado em diferentes etapas da vida. O tratamento da fenda labial é realizado geralmente aos 3 meses de vida e do palato, após os 18 meses. Por tratar-se de lesões complexas, o tratamento é geralmente realizado em grandes centros especializados e não se resume a um ou mais procedimentos cirúrgicos, sendo necessária, muitas vezes, a implementação de protocolos terapêuticos que devem ser delineados e seguidos por toda a equipe.

Reconstrução mamária
As mamas são consideradas o principal símbolo de identificação feminina nas mais variadas culturas e civilizações. Além de exercerem influência determinante na sexualidade e lactação, são importantes na identificação estética da mulher e para sua auto-estima. Além disso, interferem em seu comportamento social, profissional e afetivo. O câncer de mama vem apresentando aumento de sua incidência no Brasil e no mundo, principalmente após os 35 anos de idade e representa, nos países ocidentais, uma das principais causas de morte em mulheres. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade nos registros de câncer de base populacional de diversos continentes. No Brasil, o câncer de mama é o que mais causa mortes entre as mulheres. Daí a importância do auto-exame freqüente e diário e dos exames de imagem periódicos após os 35 anos de idade. A mastectomia parcial ou radical deixa seqüelas físicas e psicológicas nas mulheres a ela submetidas, sendo a reconstrução mamária um dos procedimentos reparadores mais desafiantes da cirurgia plástica tanto por particularidades técnicas quanto pelo impacto causado pela mutilação. Envolve desde a reconstrução imediata com o implante de próteses de silicone no mesmo ato cirúrgico da ressecção mamária, até o uso de retalhos complexos provenientes da região abdominal, costas e mais raramente, glútea. Muitos pacientes precisarão usar um expansor de pele até que a mesma esteja esticada e saudável suficientemente para abrigar uma prótese definitiva. O que determinará o tipo de reconstrução será o uso ou não de radioterapia, o grau de acometimento tumoral, a precocidade do diagnóstico e características individuais de cada paciente.